Mitologia Nórdica – Parte III – Cosmologia e Raças Mitológicas

Não gosto muito de imagens de Yggdrasil, devido ao fato que muitas representações são incompletas ou errôneas.

Terra-Média, Nárnia, Hyrule… Mundos mágicos e fictícios sempre fizeram parte de livros, filmes e jogos de ficção científica. Tal concepção de mundos místicos e paralelos vem primordialmente da Mitologia Nórdica, onde eles acreditavam que o universo continha Nove Mundos dispostos ao redor da Árvore Cósmica Yggdrasill.

Temas que hoje são tratados como mera base para qualquer obra fictícia com temática medieval, foi há muito tempo parte de uma religião que além de crer em nove mundos, cria também na existência de outras raças inteligentes além dos humanos, tais como elfos, anões, gigantes (ou trolls) e também raças divinas, como os Vanir e os Æsir.

E esse é o tema do terceiro post de Mitologia Nórdica no Bloco de Moedas, a cosmologia (organização do universo) e as raças mitológicas.

  • Os nove mundos

Nove é o número sagrado para a mitologia nórdica, assim como o sete é para a mitologia judaico-cristã, os textos que citam esse número são vários, mas a presença na divisão do universo é mais notável.

A existência de nove mundos é citada duas vezes na Edda Poética e uma vez na Edda em Prosa de Snorri.

Em Völuspá (A profecia da vidente), poema da Edda Poética, ocorre um longo diálogo entre Odin e o espírito de uma vidente onde o deus quer saber os segredos do universo, há uma passagem onde ela diz:

“Lembro dos nove mundos, nove gigantes, a gloriosa Mjötviðr, antes que o solo existisse”.

Mjötviðr, sendo aportuguesado como Miotvidúr, é um dos vários nomes de Yggdrasil, a árvore primordial.

Em Vafþrúðnismál (Balada de Vafþrúðnir/Vafthrúdnir), Odin interroga o sábio gigante Vafthrúdnir sobre os segredos do universo. E aí vemos:

“Eu posso dizer verdadeiramente os segredos dos gigantes e dos deuses, pois eu tenho vindo por cada mundo. Eu tenho vindo pelos nove mundos, antes das pessoas de Niflhel terem morrido”.

Na Edda em Prosa, a citação só ocorre no Gylfaginning (ilusão de Gylfi), onde é dito sobre Hel, a deusa dos mortos:

“Jogou Hel em Niflheim e deu a ela autoridade sobre os nove mundos”.

Sabendo que são nove os mundos, resta a nós identificá-los, embora hajam divergências sobre alguns deles.

  • Os primordiais – Muspelheim e Niflheim

Se você se lembra do post da cosmogonia, deve lembrar-se que os dois primeiros mundo a serem criados foram o Muspelheim (o reino de fogo) e o Niflheim (o reino da névoa e do gelo), Muspel ao extremo sul e Niflheim ao norte.

O Balrog em "O Senhor dos Anéis" foi claramente inspirado nos gigantes de fogo da mitologia nórdica.

Grande parte dos mundos da mitologia nórdica terminam com o sufixo -heim, palavra nórdica que deu origem à palavra inglesa “home”. Então poderíamos traduzir alguns nomes ao pé da letra, Niflheim seria “lar da névoa”, por exemplo.

Muspelheim, sendo um reino de chamas e fogo, é habitado pelos gigantes de fogo, os filhos de Muspell, que são governados por Surtr (ou Surtur). É dito que no fim dos tempos (Ragnarök), os filhos de Muspell quebrarão a ponte de Asgard e na batalha final, Surtur e o deus Freyr travarão uma batalha onde os dois morrerão (sim, os deuses nórdicos são mortais).

Niflheim, é um mundo gelado, enevoado e esquecido para onde vão aqueles que não morrem em batalha, um lugar para os que morrem de velhice ou doença, semelhante ao tártaro grego.

Lá vive a deusa Hel, deusa dos mortos e meio-cadáver. Aqui também fica o poço de Hvergelmir, onde repousa uma das três raízes de Yggdrasil.

  • Gigantes vs Humanos – Jotunheim e Midgard

Após a criação dos humanos, os deuses viram que os descendentes de Ymir (gigantes) eram perversos com eles, e para manter a ordem, separaram os humanos dos gigantes.

Então Midgard (Miðgarð), a terra dos homens, foi construída no centro do universo a partir da sobrancelha de Ymir. É uma grande porção de terra no centro de um grande mar onde vive a monstruosa serpente Jörmungand, que circunda Midgard a ponto de morder a sua própria cauda.

A questão do nome Midgard (Terra do meio) é debatida por muitos, pois de acordo com alguns pesquisadores, Midgard é o nome do muro que fora construído com a sobrancelha de Ymir para separar o lar dos homens (Mannheim, e não Midgard) do mundo dos gigantes.

Thrym já foi chamado "O rei dos gigantes"

Em textos europeus antigos, aparecem várias formas de se escrever “Terra do Meio”, sendo muitas vezes chamada de “Terra Média“. Para os gigantes, segregados dos humanos, sobrou Jötunheim a leste.

Os gigantes da mitologia nórdica não devem ser imaginados como os gigantes das outras mitologias. Eles possuem uma série de características que os tornam seres únicos na mitologia nórdica.

Em Antigo Nórdico, são chamados de Jotnar (“glutão” ou “devorador de homens”) ou Þursar/Thursar (“sedento”, derivado da expressão “sedento por sangue”), a palavra Thursar originou a palavra atual troll, utilizada no folclore escandinavo para os monstros que viram pedra ao serem tocados pela luz do sol, mas nem todos os gigantes apresentam essa característica, por isso é errado generalizá-los como “trolls”.

Utgardloki era o gigante que reinava em Utgard.

Além da já citada característica de virar pedra sob a luz do sol, muitos deles também podem mudar de forma e nem sempre apresentam formas monstruosas, sendo que muitos gigantes e gigantas são casados como deuses, e alguns eram por vezes cultuados como divindades.

O mundo que eles habitam, Jotunheim, é um mundo cheio de montanhas e por vezes neve, talvez daí venha a divisão dos gigantes em “gigantes de gelo” e “gigantes da montanha“, embora não seja muito clara.

Thiassi é o rei de Thrymheim.

Assim como em Midgard (o nosso mundo), Jotunheim possui vários reinos e reis, e não pode ser vista como um reino unificado. Thrym, o ladrão do martelo de Thor, é dito ser o “rei dos gigantes”, porém esse título é muito vago. Thrymheim e Utgard são reinos que existem em Jotunheim.

Na parte fria de Jotunheim está o Poço de Mímir (Mímisbrunnr), onde fica a cabeça decepada do deus Mímir e uma das três raízes de Yggdrasil.

  • As terras divinas – Asgard e Vanaheim

Os Æsir era o clã dos deuses da guerra, que eram mais cultuados pelos nobres nórdicos, eles habitavam o mundo mítico de Asgard, que foi feito na parte mais alta de Yggdrasil e é a terra que “toca o céu e a lua”, uma cidade magnifíca.

A ponte que liga Asgard e Midgard é o arco-íris e se chama Bifröst, guardada pelo deus Heimdall, o guardião dos deuses.

Asgard é cheio de locais e palácios, em seu centro existe a Planície de Ida (Idavöll) e também o Poço de Urd (Urðarbrunnr) onde fica uma das três raízes de Yggdrasil; há o palácio Gladsheim para os deuses masculinos e o palácio Vingolf para as deusas.

Einherjar aproveitando a pós-vida boa, esperando o Ragnarök.

O mais importante e famoso palácio de Asgard é o Valhalla (Valhöll, pronuncia-se “Valrrála“), o paraíso para os mortos em batalha.

Na religião dos nórdicos, para se ter uma boa vida na posteridade você deveria morrer em batalha, só assim você iria para o Valhala se juntar aos Einherjar (pronuncia-se Ainrrêriar), para lutar ao lado dos deuses no Apocalipse nórdico, o Ragnarök.

Freyr é o deus masculino da agricultura.

Os Vanir, deuses da agricultura e fertilidade, eram mais cultuados pelas pessoas mais simples e habitavam um reino mais modesto, Vanaheim. Diferente de Asgard, Vanaheim se encontra no mesmo nível de Midgard, por serem deuses ligados á terra. Vanaheim será uma das poucas terras que sobreviverá ao Ragnarök.

Pouco se sabe sobre esses deuses, mas a parte mais importante sobre eles se diz na Völuspá e na Edda em Prosa, quando após a criação do mundo houve uma enorme Guerra entre os Vanir e os Æsir, a primeira grande guerra.

O estopim da guerra foi Gullveig, uma Vanir que fora acusada de bruxaria pelos Æsir, queimada na fogueira e transpassada por lanças três vezes, mas sempre retornando.

Freyja é a irmã gêmea de Freyr, a deusa da agricultura.

Os Vanir ultrapassaram os muros de Asgard exigindo uma retaliação. Os Æsir se reuniram para decidir se eles deviam aceitar os Vanir entre eles ou pagar algum tipo de tributo pelos maus-tratos a Gullveig. Porém a guerra começou e Odin foi o primeiro a atacar, atravessando parte do exército com sua lança, Gungnir.

Após uma longa guerra, veio um período de trégua entre os dois clãs, onde houve uma troca de reféns entre os dois como prova de amizade. Os Vanir enviaram Njord e seu filho Freyr ao passo que os Æsir enviaram Hœnir para Vanaheim.

Njord é o deus dos mares, também relacionado à chuva.

Eles debatem sobre a guerra para descobrir quem envenenou o ar e quem entregou a mulher de Óðr (personagem desconhecido) aos gigantes (essa mulher seria Freyja). Durante os debates é criada a poesia e também o deus Vanir Kvasir, feito da saliva dos deuses.

Há uma nova troca de reféns, os Vanir enviam Kvasir (dito ser belo e sábio) e os Æsir enviam Mímir (um dos deuses mais sábios). Porém, suspeitando que os Æsir haviam enganado-os enviando um idiota, eles decapitaram Mímir e enviaram sua cabeça para Asgard. Odin a preservou e a colocou no Poço de Mímir onde poderia consultá-lo futuramente.

Os Vanir são ditos serem vários, mas somente conhecemos Njord (deus do mar), seus filhos Freyr e Freyja (casal de irmãos da beleza e fertilidade) e Kvasir (deus da beleza e poesia).

  • O lar dos elfos – Álfheim

Os elfos são seres míticos de grande importância para os nórdicos ligados com a floresta e com a luz. Os Álfar (elfos) ou ás vezes Ljosálfar (elfos da luz) não são como os elfos de Tolkien em “O Senhor dos Anéis”, os elfos da mitologia nórdica são seres tão brilhantes quanto o sol, ás vezes são representados tendo asas.

No folclore dos povos escandinavos possui uma superstição que diz que eles não devem chutar pedras para que elas não atinjam um elfo sem querer.

Ainda segundo o folclore, os elfos são geralmente representados sendo de pequena estatura, como os duendes, mas na mitologia nórdica, eles são representados de maneira semelhante aos deuses e humanos.

Em alguns textos antigos, aparece escrito “pelos Æsir, Vanir e Álfar”, como se referindo “a todos os deuses”, mostrando a qualidade divina que os elfos possuem.

Os elfos, tendo assim a característica de serem divindades inferiores ligadas à natureza e fertilidade, são bastante ligados ao clã dos Vanir, sendo que o deus Freyr possui uma estranha ligação com eles, como mostrado no Grímnismal:

E Álfheim os deuses deram para Freyr como “presente de dente”

O herói Völundr é apresentado como "líder dos álfar"

Um “presente de dente” é um presente dado a uma criança quando cai o seu primeiro dente de leite. Freyr é a maior divindade Vanir ao lado de seu pai, Njord, e Álfheim entra para a lista dos nove mundos, o mundo dos elfos.

Sobre a sua localização, talvez seja possível afirmar que eles se localizam em um plano ainda mais alto que Asgard, na Edda em Prosa, no Gylfaginning diz, falando sobre o palácio Gimlé que sobreviverá ao Ragnarök:

É dito que há outro céu ao sul e acima deste, e é chamado Andlang (Vertical) mas o terceiro céu está ainda acima deste, e é chamado Vidbláin (Grande azul) e é nesse céu que nós achamos que este local está. Mas creio que ninguém além dos Elfos da Luz habitam essas mansões agora.

Então podemos acreditar que o mundo dos elfos se localiza numa abóbada celeste acima de Asgard, e mais ao sul.

  • A confusão dos dois últimos mundos – Nidavellir, Svartálfheim e Helheim

A confusão se dá devido a Snorri Sturlusson, na escrita da Edda em Prosa, exatamente neste parágrafo:

Há um local que é chamado “lar dos elfos” (Álfheim). As pessoas que ali vivem são chamados de Elfos de Luz (Ljósálfar). Mas os Elfos Negros (Dökkálfar) vivem debaixo da terra, em cavernas e em florestas escuras, e eles não são semelhantes na aparência – e ainda mais no comportamento. Os Elfos da Luz são tão brilhantes quanto o sol, mas os Elfos Negros são mais escuros que o pixe.

A Edda em Prosa é o único texto que cita os Elfos Negros, por vezes chamado Dökkálfar (elfos negros) e por vezes chamados Svartálfar (elfos escuros).

O quadro "The Nightmare" de John Henry Fuseli retrata uma crença do folclore escandinavo, que dizia que os elfos entravam nos quartos à noite e sussurravam pesadelos no ouvido das pessoas.

Existem duas teorias para a criação desses seres por Snorri Sturlusson. A primeira teoria seria uma influência cristã, a tradição judaico-cristã é baseada no dualismo, se existem serem tão brilhantes quanto o sol, deve existir o seu oposto malévolo, seres mais escuros que o pixe, daí os elfos negros foram criados.

O dualismo de espécies não existe na mitologia nórdica, todos os seres, independente de sua espécie, podem fazer tanto o bem quanto o mal.

Outra teoria diz que Snorri estava fazendo uma metáfora aos anões, seres também pertencentes à mitologia nórdica. Essa conclusão pode ser obtida mais adiante no Gylfaginning, onde o mensageiro Skírnir desce até Svartálfheim (lar dos elfos escuros) e pede que os anões construam a corrente Gleipnir.

Sem falar que mesmo considerando anões e elfos negros como criaturas distintas, as semelhanças entre eles são tantas que é quase impossível distinguí-los: Eles habitam o interior da terra, possuem má aparência, geralmente são mesquinhos e ambiciosos e em muitos casos viram pedra ao ser tocados pela luz do sol.

Os anões são ferreiros natos e a sua criação é narrada com detalhes na Völuspá, que também fala que habitam as planícies subterrâneas, chamadas Niðavellir (Nidavellir).

Então existem duas teorias para os dois últimos dos nove mundos:

Hel, rainha dos mortos, metade deusa metade cadáver.

A primeira teoria é caso você considerar os anões e os elfos negros como seres distintos, sendo assim temos os reinos subterrâneos de Nidavellir (para os anões) e Svartálfheim (para os elfos escuros).

Porém, se levarmos em consideração que os anões e os elfos negros são os mesmo seres, então Nidavellir e Svartálfheim são o mesmo mundo. Qual seria o nono mundo, então?

Esse seria Helheim (lar de Hel). Para muitos, Helheim seria somente um palácio em Niflheim onde são reunidos os mortos, mas outras pessoas preferem considerá-lo um mundo a parte do reino da névoa, completando assim a lista dos nove mundos.

Desculpem pelo longo post, por favor comentem e me corrijam. 😛

14 respostas para ‘Mitologia Nórdica – Parte III – Cosmologia e Raças Mitológicas

  1. Cara, encontrei o blog durante uma pesquisa no google sobre mitologia nórdica e devo dizer que achei o post bem completo e muito bem escrito. Vou dar uma olhada nos outros posts sobre mitologia nórdica também. Parabéns e muito obrigado.

    • Cara, se tiver alguma dúvida, pode colocar nos comentários que eu procuro responder no próximo post.
      ;D
      dúvidas e sugestões são sempre bem vindas, obrigado por comentar.

    • Valeu cara, por muito tempo estive pesquisando sobre mitologia nórdica e quando eu vi que todos os sites que eu usava como referência expiraram resolvi, por sugestão de um amigo meu, postar meus conhecimentos no blog 🙂

  2. Muito bom o blog cara,achei o blog pesquisando sobre a mitologia nórdica no google e chueguei aqui… Muito bom mesmo bem completo e fácil de entender… a banda Amon Amarth que é death metal faz as letras de suas musicas sobre a mitologia nórdica ( por isso eu tava pesquisando) mas aqui é mt mais completo. Parabéns pelo post e mt obrigado por tirar várias duvidas que eu tinha 😀

  3. To fazendo um trabalho sobre conhecimento místico, e seus posts me ajudaram bastantes a entender a mitologia nórdica, parabéns pelo blog, ;D

  4. Caro Autor,

    Primeiramente gostaria de te parabenizar pela publicação e agradecer por tê-lo feito. Me ajudou nas pesquisas que estou fazendo relacionadas a um tema similar que venho trazer aqui. Podemos relacionar a Árvore Cósmica Yggdrasill com A Árvore da Vida Cabalística (http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81rvore_da_Vida_%28Cabala%29). Apesar da diferença de um (10 sephirots contra os 9 mundos) ser tolerável, existe um outro relacionamento que gostaria de fazer, e ficarei muito grato se puder ajudar: No fac-símile 2 do Livro de Abraão (http://scriptures.lds.org/pt/abr/fac_2), podemos ler no texto explicativo da figura 5 sobre 15 outros planetas ou estrelas fixos, governadas pela estrela Colobe. A pergunta principal a ser feita é: quais outras cosmologias mitológicas que fazem referências a mundos externos ao nosso e que podem ter o seu número que se aproxime da quantidade que está descrita no Livro de Abraão? Se existir, quais são os nomes, visto que no Livro de Abraão nem todos os nomes são mencionados?
    Pesquisa difícil, não é? Bem, acho que traçar esses paralelos ajuda a enriquecer mais ainda o assunto, pois podemos entender que a cosmologia nórdica pode ter tido uma raiz egípcia, do mesmo modo que a hebraica.

    Agradeço a atenção.

    • Uau! Que comentário! 😀
      Muito obrigado pela contribuição, devo admitir que nunca me interessei tanto por mitologia judaico-cristão além da já cliché demonologia e angeologia, mas fiz uma rápida pesquisa antes de responder seu comentário e espero ajudar, mesmo que superficialmente.

      1- Eu particularmente, acredito que não hajam só nove mundos em se tratando da mitologia nórdica. São três ou quatro vezes que as Eddas se referem aos nove mundos (já dito em posts anteriores que 9 é o número sagrado para os nórdicos, tanto quanto o 7 para o judaico-cristianismo e o 3 para os celtas), porém, estes mundos não são especificados quais são e quem os habitam, deixando livre para a interpretação de qualquer leitor.
      – Devido a essa livre interpretação, não se sabe se certos mundos, como Nidavellir e Svartálfheimr ou Niflheimr e Helheimr são os mesmos, devido à falta de classificação dos mesmos. Então, arrisco que não seria errado dizer que existem mais que nove mundos, porém os nórdicos só consideram nove por ser seu número sagrado.
      – Um exemplo é quando Snorri Sturlusson em sua Edda em Prosa descreve o palácio de Gimlé:
      “É dito que existe um outro céu, ao sul e acima deste, e é chamado de Andlangr (Em posição vertical), mas o terceiro céu está logo acima deste, e é chamado de Vídbláinn (Vasto azul), e é neste céu que acreditamos que este palácio (Gimlé) está. Mas acreditamos que ninguém além dos elfos da luz habitam estas mansões agora”.
      – Snorri não descreve Álfheimr (mundo dos elfos), mas sim um outro mundo ou região que ocasionalmente é habitado por elfos. Estes demais “céus” não descritos ou desconhecidos podem se tratar de outros mundos em galhos ainda mais altos da Yggdrasill.

      2- Infelizmente, não conheço nenhuma outra mitologia que trate de diferentes mundos como é tratado pela mitologia nórdica. Mesmo em mitologias que há uma divisão do universo, não é da mesma maneira que a nórdica, como por exemplo na grega (Céus para Zeus, Mar para Poseidon, Subterrâneo para Hades e a Terra para todos os outros seres) ou mesmo na judaico-cristã tradicional (Mundo Físico, Mundo dos Mortos e Reino dos céus (este último nem em todas as doutrinas)).
      – Quanto à árvore da vida cabalística, pelo que eu li (http://www.kabbalah.info/engkab/commentary.htm), os dez sephirots se apresentam divididos em quatro mundos, mas que mais se assemelham a estado de matéria de um mesmo mundo, ou seja, diferentes níveis de percepção do mesmo universo (ver número 29).
      – Esses mundos se assemelhariam às onze dimensões propostas pela Teoria das Cordas, em que o universo se divide em dimensões que são largura, altura, profundidade, tempo e outras sete dimensões ainda desconhecidas. Ou seja: não são universos paralelos, mas diferentes camadas de percepção do mesmo universo.
      – Ainda assim, os nove “mundos” nórdicos também são por alguns chamados de nove “reinos”, por muitas vezes ser considerados parte do mesmo plano.

      3- Sobre a influência egípcia, acho difícil haver alguma influência. Os relatos sobre a mitologia existentes vêm dos relatos dos romanos sobre os povos conquistados e também das tão famosas Eddas, que foram escritas por volta do século XIII numa europa já praticamente cristã, ou seja, com bastante influência religiosa. As influências são em sua maioria anglo-saxãs e também orientais, a única maneira dos nórdicos ter contato com os egípcios seria através dos gregos, que no momento em que a mitologia nórdica se desenvolvia, já haviam sido dominados e sincretizados pelos romanos, que também sincretizaram os egípcios.

      Espero ter auxiliado 😉

      • Claro que auxiliou bastante a conhecer outros detalhes importantes para essa correlação. Entretanto, quero apenas salientar que o mundo é menor do que parece, e hipótese de uma influência egípcia sobre a cosmologia nórdica é viável porque muitas tradições e ensinamentos às vezes eram transmitidos por peregrinos, monges, missionários, etc, que se prontificavam em ensinar sobre seus princípios e valores nos vilarejos ondem passavam, e às vezes se hospedavam.
        Eventualmente, estes ensinamentos também se espalhavam através de poucos escritos que caíam nas mãos de um ou outro sábio que tinha condições de interpretar, visto que os idiomas da época são antigas para nós, mas contemporâneas para eles. Isso se não contarmos as guerras e conquistas de territórios, que eram o meio mais comum (e traumático) das civilizações absorverem ou mesclarem suas culturas.
        Existem muitos símbolos que enxergamos, mas que são corruptelas de outros usados pelos povos antigos. Um exemplo mais comum é a correlação dos símbolos das Doze Tribos de Israel com o Zodíaco. Touro (Manassés) e Leão (Judá) denunciam que houve a distorção. Então podemos supor (e especular, que também é divertido) que existe alguma influência entre os nórdicos, gregos, romanos, israelitas e egípcios.
        Bem, acho que de viagem na maionese já temos bastante….rs. De qualquer modo, agradeço pela tua resposta e estou às ordens caso tenha descoberto algo e que queira compartilhar.

        T+

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